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pensador.info

domingo, 7 de dezembro de 2008

ETERNIDADE



Já fui lágrima inocente - nos olhos duma criança.
Já fui lágrima culpada - na face de um assassino.
Percorri córregos, rios, cascatas, lagos e mares.
Fui nuvem negra de tempestade que causa medo.
Fui orvalho caído, em noite fria, sobre uma flor.
Fui seiva que alimenta a planta e a faz crescer.

Fui o veneno que emana das garras da serpente.
Já passei por esgotos fedidos das grandes cidades.
Já viajei pelos corações dos tigres africanos.
Já rolei pelas pedras das pirâmides do Egito.
Já passeei pelas águas calmas de Veneza.
Congelei-me nos picos de montanhas seculares.

Fui o caldo vigoroso que dá forças às pessoas.
Fui o gelo do seu coquetel em noite de festa.
Já fui a sua urina quente, despejada no chão.
Já fui a sua saliva por desejo de um doce.
Fui a composição sanguínea em suas veias.
Fui o remédio que o livrou da morte.

Viajo dia e noite sem parar,
sou peregrino do mundo.
Fico séculos no mesmo lugar,
noutros, passo num segundo.

Meu destino é este: a vida, a solidão.
Ao universo, eternamente, servirei.
Não carrego dor nem mágoa.
Juntos formamos uma imensidão.
Sozinho... fui, sou e sempre serei...
Um singelo... pingo d'água.

Poesia extraída do Livro: O útero de Deus