BLOG O PLEBEU
Em seu olhar
havia uma sombra de tristeza. Seu andar hesitante enunciava a falta clara de
destino. Tudo nela lembrava desespero. A ponte, quase encoberta pela névoa,
estava bem à sua frente. Dava para entrever, na paisagem opaca, o início do corrimão
feito em madeira trançada. Bastariam poucos passos, não mais do que vinte e
encontraria a solução. Quando, de repente, uma luz amarela furou a neblina iluminando
a ponte e ofuscando seus olhos. A buzina alta cortou a madrugada como um grito
de socorro. A freada estridente e prolongada deixava em suspense uma tragédia final. Ela
estancou os passos e fechou os olhos. O veículo parou a um palmo do seu corpo. Ouviu
uma voz sumida, de dentro do veículo, gritar com ironia:
- Você nasceu de novo hoje, mocinha?
Ela deu três passos para o lado esquerdo e o veículo partiu mansamente, deixando um
recado de dever cumprido. Como ela não estava ali para entender mensagens, seguiu
para a ponte.
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