Que ele
acordou disposto a assaltar um banco; lá isso ele acordou!... Tanto que saiu
sisudo, passo firme e o rosto franzido, sua atitude não deixava dúvida de seu
intento.
Nas razões que
procurou na vida, não desvendou nenhuma, suficientemente forte, que o fizesse
desistir. Vivia sozinho, longe de sua cidade natal e sem ninguém para
acariciar. Nem amigo de fé encontrara nessa terra de cada um por si.
Entrar no
banco não era problema, ele conhecia desde o contínuo ao gerente. Já estivera
diversas vezes na tesouraria, levando recado, sem precisão, da mulher do
tesoureiro.
Depois que
estivesse enjaulado lá dentro, seria feito o que Deus quisesse que fosse.
Embora ainda faltasse um quarteirão inteiro para chegar ao banco, não iria
retroceder.
Como arma
portava apenas o canivete de picar fumo, mal responsável diretamente por esta
decisão intempestiva, pois foi tomada justamente quando pensava no futuro e
preparava o seu inseparável cigarrinho de palha.
O tesoureiro
era um velho gagá. Ele chegaria por trás e lhe aplicaria uma gravata apertada e
o ameaçaria com o afiado canivete.
Só com isso
ele apostava que o homem entregaria até a alma junto com o dinheiro do cofre.
Fugiria por
alguns anos e retornaria para a sua terra natal. Seria um ricaço. Abraçaria
todos os seus amigos. Lá ele tinha amigos. Construiria casas para os
necessitados. Ajudaria na Igreja. Quem sabe, talvez, até ganhasse uma estátua
na Praça...!
Chegava a hora
fatal, ele já estava quase na esquina do banco, estufou o peito e num passo
reto elevou os olhos ao redor para sondar o ambiente. Tudo calmo no caminhar
dos passantes. Ele dobrou a esquina e mais alguns passos adentraria ao banco.
No exato
momento que ele elevou a perna para alcançar o degrau da entrada, dois indivíduos,
carregando cada qual uma pasta preta, saíam às pressas. Ele estancou. Chegara
tarde demais, o banco estava sendo assaltado. Aqueles bandidos não só levavam o
seu dinheiro como roubavam também o seu sonho.
Ele não teve
dúvida, estufou mais ainda o peito, abriu os braços e abalroou com força contra
os dois. Arrancou seu canivetinho do bolso e nem teve tempo de abri-lo para
ameaçar os bandidos. Recebeu um só tiro, em cheio, no coração, que o
imobilizou. Fatalmente ele não nascera para ser bandido. Ali mesmo caiu como
herói, com seus planos já mortos, junto aos ladrões, metralhados pelos
seguranças.
Foi enterrado em sua cidade natal e pelo último ato de
bravura... ganhou uma estátua na Praça da Igreja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Para dar ampla liberdade a quem deseja expressar sua opinião, os comentários não serão publicados.